quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O desenvolvimento motor normal é caracterizado pelas aquisições nos sentidos crânio-caudais e próximo-distais, ou seja, iniciando o ganho do controle postural pela musculatura cervical, seguida de tronco e pelve. O desenvolvimento próximo-distal se inicia pelas articulações mais próximas da linha média, para então as mais laterais. Segundo Kandel; Schwartz e Jessel (1997), os músculos axiais (tronco) e apendiculares (proximais) do homem são usados na manutenção do equilíbrio postural, enquanto os músculos distais são utilizados para atividades manipulatórias. A importância do controle postural e da manutenção do equilíbrio se dá pelo fato da necessidade destes para um bom desempenho nas atividades motoras finas, como preensão, alcance e escrita.Assim, segundo Medeiros e Dias (2002), o ato motor baseia-se em duas atividades: a desentir e perceber, e a de realizar movimentos. Estimulando os três sistemas sensoriais (sistema vestibular, sistema visual e sistema proprioceptivo), a equitação terapêutica facilitará o aprendizado motor, levando a mudanças na organização e número das conexões neurais, chamado de plasticidade neuronal.O sistema vestibular é estimulado a partir da movimentação da endolinfa. O aparelho vestibular é o órgão que detecta as sensações de equilíbrio, e é composto por um sistema de tubos e câmaras no labirinto ósseo. Dentro deste está o labirinto membranoso, que é composto pela cóclea, por três canais semicirculares e por duas grandes câmaras chamadas utrículo e sáculo, responsáveis pelo equilíbrio.Os três canais semicirculares são sensíveis às acelerações angulares (rotações). O utrículo e sáculo são sensíveis às acelerações lineares (translações e a gravidade). A combinação dos dois sistemas assegura a percepção de todas as acelerações possíveis. O processo de estimulação vestibular se inicia com o fundamento da semelhança da marcha humana com o andar do cavalo. É através do conhecido movimento tridimensional que o cavalo promove no corpo do indivíduo montado sobre seu dorso, que a musculatura do tronco é ativada, de maneira a impedir a queda pelas oscilações constantes. Quando sobre o cavalo, o indivíduo está exposto a estas oscilações de maneira bem peculiar. Partido do animal parado, e iniciando o seu deslocamento pela pata posterior direita, o membro seguinte a se deslocar será a pata anterior esquerda. Desta maneira, a pelve do cavaleiro recebe estes movimentos, desencadeando o processo de recrutamento muscular e ajuste tônico para evitar a queda. Movimentos verticais da garupa Baumann (1978) extraída de Uzun (2005)Movimentos átero-laterais da garupa Baumann (1978) extraída de Uzun (2005) Nos casos de lesões neurológicas, onde estas reações estarão comprometidas, o cavalo beneficia o aprendizado motor através da repetição dos movimentos oscilatórios da pelve e tronco. Sendo a hipoterapia uma técnica essencialmente direcionada à reabilitação, é voltada para pessoas portadoras de deficiência física e/ou mental.9 A escolha adequada do animal, ou seja, a freqüência do passo, é de suma importância para se obterem as respostas posturais adequadas para cada paciente. O animal que apresentar um número maior de passadas por minuto (antepistar) irá ativar os receptores proprioceptivos intrafusais, que só respondem a estímulos rápidos, como também os receptores articulares que respondem à pressão, gerando aumento do tônus, indicado para pacientes hipotônicos. Em contrapartida, quando o cavalo apresentar uma freqüência baixa de passos (transpistar), diminuirá a velocidade de inputs dos estímulos proprioceptivos, mantendo o movimento rítmico e cadenciado, estimulando assim o sistema vestibular de forma lenta, contribuindo para diminuição do tônus muscular de todo o corpo, sendo indicados principalmente para pacientes hipertônicos. Para melhor análise das atividades musculares realizadas durante estas terapias, observamos inicialmente indivíduos sem alterações neurológicas, analisando assim apenas variações de recrutamento muscular, sem possíveis interferências de espasmos musculares ou desvios posturais . Participaram deste estudo 9 sujeitos, com idades entre 20 a 25 anos, sexo feminino, sem alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem dores ou alterações posturais. A montaria foi realizada em uma égua de 13 anos, sem raça definida. O espaço utilizado foi um picadeiro de 20 X 60 metros, solo de areia.Para análise quantitativa dos resultados, foram utilizados aparelho de eletromiografia de superfície da marca MIOTEC® e software Myography® com 4 canais. Para a montaria, foi utilizada manta de atendimento, tipo “galope”, sem alças ou estribos. A coleta era iniciada com a colocação de eletrodos circulares pré-geldados de cloreto de prata Medtrace®, espaçados 2.5cm entre eles, sendo posicionados no ponto motor dos músculos eretores lombares, de acordo com a técnica sugerida por Cram et al. (1998). Os sujeitos foram observados primeiramente no solo, para então montarem no cavalo. Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi, respectivamente: com o cavalo ao passo, no qual o sujeito se encontrava montado com o corpo direcionado para a frente, sempre tendo como referência a cabeça do cavalo, e de costas à cabeça do cavalo – dorsal. Com o cavalo ao passo rápido foram coletadas as mesmas posturas, num percurso linear de 20 metros. Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos, sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas, para a segurança do paciente, e um condutor para o cavalo. Freqüência do cavalo transpistar (Medeiros, Dias, 2002) Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo durante as coletas. Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia. A análise estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, que possui nível de significância de 0,05 (5%).Analisando os dados obtidos, comparamos as seguintes posturas, iniciando pelos resultados da comparação dos movimentos para a posição frontal: Concluímos que existe diferença média estatisticamente significativa entre as velocidades para a posição Frontal somente nos valores de média, onde inclusive, a média da velocidade rápida é de fato maior que a média da velocidade lenta. Para pico não foi encontrada diferença significante entre as velocidades. Continuaremos comparando as velocidades, mas agora para a posição de dorsal. Média PicoDorsal Dorsal Dorsal DorsalLento Rápido Lento RápidoMédia 56,89 77,22 103,11 142,44Mediana 47,5 56 75 85,5Desvio Padrão 44,92 61,31 89,81 120,77Limite Inferior 36,14 48,90 61,62 86,65Limite Superior 77,64 105,54 144,60 198,24p-valor 0,001 0,004Para a posição de dorsal, concluímos que existe diferença significante entre as velocidades, tanto para a média quanto para o pico. Averiguamos ainda que em ambas as situações a maior média se encontra sempre na velocidade rápida.
Média Pico